“(…) a tecnologia envolve todo o necessário para tornar a vida (e a morte) mais cômoda, enquanto a ciência é simplesmente um esforço para compreender o mundo.”
“A ciência é uma tentativa, em grande parte bem-sucedida, de compreender o mundo, de controlar as coisas, de ter domínio sobre nós mesmos, de seguir um rumo seguro.”
A tecnologia depende da ciência?
A tecnologia não necessariamente depende da ciência.
Imagine como se deu a descoberta da produção de fogo pelos seres humanos primordiais. Eles não tinham noção que é a combustão do oxigênio que gera calor e luz. Estavam interessados em aquecimento, iluminar um ambiente, manter predadores afastados etc.
Outro exemplo nos leva ao físico alemão Wilhelm Röntgen (1845 – 1923). Ele descobriu o raio X em 1895, enquanto estudava a luz fluorescente emitida por um tubo de raios catódicos. Esse aparelho é chamado também de tubo de Crookes.
Röntgen percebeu que uma chapa próxima ao experimento brilhava enquanto o tubo estava ligado. Ele executou alguns testes que demonstraram que alguns materiais bloqueavam esses raios e outros não. O cientista até pediu à sua esposa para colocar a mão entre o tubo e a chapa, revelando os ossos de seus dedos.
Röntgen tinha a tecnologia. Já que a natureza daqueles raios invisíveis era um mistério, ele não conhecia a ciência envolvida ali. Por isso, Wilhelm não pôde sequer dar um nome adequado à sua descoberta, que permaneceu chamada raio X.
Muitas pessoas foram expostas em excesso a raios X antes de sabermos que eles podem causar mutações e outros prejuízos ao corpo. Isso poderia ser evitado se tivéssemos um conhecimento mais profundo sobre radiação.
Daí a importância de uma base científica por trás de uma tecnologia. Esse embasamento nos permite usar a tecnologia de forma mais controlada e responsável.
Desenvolvendo tecnologia a partir da ciência
O que vemos hoje é a tecnologia muito mais dependente da ciência.
Para produzir um celular, precisamos de conceitos de ondas para ele fazer ligações e se conectar à Internet. Sua bateria necessita de princípios de química e eletricidade para funcionar.
Por isso também podemos definir tecnologia como a aplicação prática da ciência.
Há empresas que investem em ciência aplicada porque sabem que os estudos são conduzidos em uma área que gera resultados práticos. A indústria farmacêutica é um bom exemplo. Estudos bioquímicos podem levar à produção de novas drogas que salvam vidas.
Mas nem todo tipo de conhecimento científico resulta em aplicações práticas em um futuro próximo.
Chamamos de ciência de base a busca pelo conhecimento motivada essencialmente pela curiosidade em saber como as coisas funcionam. É um trabalho dedicado a deixar um legado para a humanidade.
A ciência e a tecnologia se beneficiam uma da outra, mas, em seu nível mais fundamental, não se faz ciência por razões de ordem prática.
― Steven Weinberg
Em geral a maior parte do fomento a esse campo vem de dinheiro público (é o caso do Brasil, o que não significa que seja muito), mas também há instituições privadas que investem nesse tipo de ciência sem esperar resultados práticos em troca. Inclusive, há campanhas de financiamento coletivo como a da neurocientista Suzana Herculano-Houzel, que já superou a meta de R$ 100.000,00 em contribuições.
Desinformados podem pensar que investimentos em ciência de base são uma perda de dinheiro e de tempo. Mas eles estão totalmente enganados. Anos em pesquisa em ciência de base podem resultar em aplicações práticas e avanços que nossa visão ainda não é capaz de enxergar.
Eventualmente esse conhecimento será “útil” e fará uma diferença no dia a dia. Então, as pessoas serão gratas aos engenheiros, cientistas e inventores que acreditaram no conhecimento enquanto poucos davam valor.
Engenheiro de Computação e Informação trabalhando com Marketing Digital e editando o Blog da Ciência. Convicto do poder da divulgação científica como ferramenta para compartilhar conhecimento.