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O xeque-mate da ciência sobre as pesquisas com células-tronco

Imagem de capa do post com o título "O xeque-mate da ciência sobre as pesquisas com células-tronco" e células-tronco embrionárias de ratos ao fundo.

“Resultados inconclusivos de testes em seres humanos reduzem expectativa dessa terapia [células-tronco], mas não a tiram do páreo na busca de novos tratamentos para lesões do coração”, é prefacio da pesquisa de capa do periódico de divulgação científica da USP, Pesquisa FAPESP, do mês de outubro de 2017.

A ciência é um processo contínuo de aprendizado. Questionamos, estudamos, desenvolvemos hipóteses, testamos, concluímos sobre os nossos testes demonstrando se nossas hipóteses eram válidas ou não. E, assim, o processo se recicla, em um continuo aperfeiçoamento.

“Na virada do milênio, publicações científicas em periódicos importantes sugeriam que ambas [células-tronco embrionárias e adultas] teriam propriedades equivalentes.

[…] Hoje, sabe-se que as células-tronco adultas não são tão versáteis o quanto prometiam. Os resultados dos ensaios clínicos não foram animadores. Mas isso não significa que tenham sido descartadas como possível tratamento ou que os esforços tenham sido desperdiçados. Na ciência, o negativo também é um resultado; mesmo que não renda prêmios ou resulte em publicações, contribui para o avanço do conhecimento, até mesmo para a reflexão sobre a decisão de dar início aos ensaios clínicos naquele momento”, explica Alexandra Ozório de Almeida, diretora de redação da Pesquisa.

A ciência, sempre que possível, nos propõe soluções promissoras sobre diversos âmbitos, em todas as suas áreas.

Quanto ao conhecimento humano, podemos afirmar: antes de conhecermos mais sobre nós mesmos, já vislumbrávamos as estrelas. E, assim como foi para com o Cosmos, desde que começamos a entender o quão incrível é a vida em toda sua complexidade, não paramos de nos surpreender.

Para o público que consume divulgação científica, não será difícil lembrar de alguma publicação, reportagem ou artigo, que tenha se referido às células-tronco. Elas vieram como um boom de propostas científicas para diversos tipos de tratamentos.

O conteúdo de periódicos abrangentes faz por onde em suas publicações de impacto. Mas o que, ao fim, confirma essas afirmações são os resultados dos experimentos.

O tom dessa publicação pode parecer transmitir um ar de ceticismo quanto a qualquer proposta científica inovadora, mas a intenção, na verdade, é outra. Os resultados iniciais sobre os estudos das células-tronco, por mais incríveis que possam ser, são pautados sobre o método científico, replicável e verificável, e isso é o que torna tudo tão animador.

Aqui, ressaltamos os pontos em que a natureza vai contra nossas expectativas, com a prerrogativa de demonstrar que ela simplesmente é assim, e que fazemos ciência para entendê-la.

“Na ciência médica, veem-se mais controvérsias do que certezas”, conta Rafaela Zorzanelli, pesquisadora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Afinal, se tudo já nos fosse compreendido, onde entraria a ciência?

Uma rápida abordagem do estudo de células-tronco nos dá uma noção da importância dos resultados das pesquisas nesse sentido.

O que são células-tronco?

As células-tronco, sejam elas embrionárias, adultas, pluripotentes induzidas, entre outras, são células que possuem a capacidade de se autorrenovar e se transformar em tipos distintos de células. Ou seja, na prática, as células-tronco conseguem se autorreplicar (fazer cópias de si), originando outras células-tronco, ou se especializar em diferentes tipos celulares ― algo que vem a ser objeto de estudo de boa parte das pesquisas.

Quais são os tipos de células-tronco?

Para facilitar o entendimento daqueles que não possuem o conhecimento técnico da área, resumimos o conceito por trás das principais características de cada um de seus diferentes tipos.

Células-tronco embrionárias

Também conhecidas como células pluripotentes, as células-tronco embrionárias, como o próprio nome sugere, são encontradas no embrião. O que torna essas células tão especiais é a sua característica de grande adaptabilidade, proveniente de sua capacidade de se especializar em qualquer outro tipo de célula adulta.

Células-tronco adultas

Chamamos as células-tronco de adultas pelo estágio em que elas se encontram. Elas estão presentes em grande parte no sangue proveniente do cordão umbilical e na medula óssea. Além disso, podemos encontrá-las em pequenas quantidades em cada um dos nossos órgãos, afinal, é isso que possibilita a renovação das nossas células durante o curso de nossas vidas.

Também chamadas de células multipotentes, as células-tronco adultas recebem essa denominação por sua menor versatilidade em comparação com as células pluripotentes.

Células-tronco induzidas

As células-tronco de pluripotência induzida, ou induced pluripotent stem cells (iPS) foram produzidas em laboratório em 2007, por pesquisadores que reprogramaram células da pele para se comportarem como células-tronco embrionárias.

Quais os resultados de tratamentos de lesões no coração com células-tronco?

Entre outras informações presentes na publicação da Pesquisa, são apresentados resultados de estudos — brasileiros e de outros países —, quanto ao trabalho com diferentes tipos de células-tronco. Partindo desse parâmetro, elevamos o atual cenário em que essas pesquisas se encontram:

Células precursoras do músculo esquelético: apesar da melhora dos órgãos, surgiram arritmias. O uso dessas células foi abandonado.

Células-tronco mesênquima da medula óssea: os ensaios clínicos atuais não permitem concluir se vale a pena utilizá-las.

Células-tronco mesênquima do tecido adiposo: só agora passaram a ser usadas em ensaios clínicos, planejados para verificar o seu impacto na saúde.

Células-tronco cardíacas: conforme dados publicados em um artigo em 2012, onde os pesquisadores acompanharam 33 pacientes, verificou-se melhorias no funcionamento cardíaco.

Células progenitoras cardíacas: um pequeno ensaio clínico publicado em 2014 sugere que seu uso seria seguro na redução da cicatriz causada por infartos.

Células-tronco de pluripotência induzida (iPS): nos últimos cinco anos, vem sendo testado em macacos e porcos, sendo que em alguns casos, causaram arritmia.

Células-tronco embrionárias humanas: capazes de gerar células de todos os tecidos do corpo, foram testadas em animais e, em 2015, implantadas em um paciente. No entanto, causaram polêmica por destruir o embrião para sua retirada.

Como pôde-se observar acima, ao contrário do que pudéssemos pensar inicialmente, há diversas pesquisas que lidam com diferentes tipos de célula-tronco. Ainda há muitas pesquisas em andamento e muitos resultados são inconclusivos ou desfavoráveis à utilização dessas células para alguns tratamentos, mas não podemos nos esquecer dos nossos ganhos.

Testada em seres humanos desde os anos 2000, terapia com células-tronco para problemas cardíacos não apresenta resultados conclusivos e leva a novos testes in vitro e com animais […] Células-tronco adultas não recuperam o coração, mas liberam compostos que reduzem os danos.

O resultado dos estudos transmite uma mensagem ao público: as pesquisas continuam avançando.


Referências:
IPCT – Instituto de Pesquisas com Células-Tronco
RNTC – Rede Nacional de Terapia Celular
Pesquisa FAPESP | 260, de outubro de 2017, páginas 18-23:
Projeto – Genômica cardiovascular: Mecanismos e novas terapias – CVGen mech2ther (número 13/17368-0); Modalidade – Projeto Temático; Pesquisadoe responsável – José Eduardo Krueger (InCor-USP); Investimento R$ 6.902.193,63;
Artigo científico – DARIOLLI, R. et al. Allogeneic pASC transplantation in humanized pigs attenuated cardiac remodeling post-myocardial infarction. PLOS ONE, 27 abr. 2017, através do link: http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0176412