3 momentos da história da ciência em que os cientistas deram um show
Quando um cientista faz uma descoberta, além daquela sensação de “eureka”, é invadido por uma vontade quase que incontrolável de compartilhar o novo conhecimento com todo mundo.
Em uma época em que os cientistas ainda nem eram conhecidos por esse nome, a demonstração de experimentos em público era muito comum.
Então, veremos neste artigo três momentos da história da ciência em que cientistas apresentaram suas descobertas em verdadeiros espetáculos científicos. Acompanhe!
Galileu Galilei e os objetos lançados da Torre de Pisa
Diz a lenda que Galileu Galilei (1564 — 1642) soltou bolas de massas diferentes do alto da Torre de Pisa para desbancar a ideia de Aristóteles de que objetos mais pesados caem mais rápido que objetos mais leves. O resultado: as bolas lançadas por Galileu alcançaram o chão com a mesma velocidade, provando que Aristóteles estava errado.
Não termos evidências claras sobre esse episódio. Sabemos, porém, que Galileu rolou bolas de diferentes massas sobre um plano inclinado para analisar suas velocidades durante a descida. Seus experimentos abriram caminho para Newton, que viria a descrever a lei da gravitação universal algumas décadas mais tarde.
Versões do lendário experimento de Galileu na Torre de Pisa foram testadas séculos mais tarde.
Em 1971, o astronauta da NASA David Scott, membro da missão Apollo 15, fez o experimento sobre a superfície da Lua usando um martelo e uma pena. Como o nosso satélite natural não tem atmosfera, para todos os efeitos, o martelo e a pena caíram no vácuo — sem resistência do ar —, e alcançaram a superfície lunar ao mesmo tempo.
Em 2014, a emissora de TV britânica BBC TWO exibiu o programa Human Universe, apresentado pelo físico e professor Brian Cox. Em um dos episódios, Cox foi até o Space Power Facility da NASA, em Ohio, onde fica a maior câmara de vácuo do mundo. Depois de retirado o ar da câmara — criou-se um vácuo* —, uma bola de boliche e algumas penas foram soltas simultaneamente de uma altura considerável. Você já imagina o que aconteceu, não é?
E por falar em vácuo…
Otto von Guericke e os hemisférios de Magdeburgo
Em 1654, o físico alemão Otto von Guericke (1602 — 1686) fez um experimento em público na cidade de Ratisbona para demonstrar o quão forte é a pressão atmosférica.
Von Guericke usou couro lubrificado para unir dois hemisférios ocos de cobre com cerca de 50 cm de diâmetro e bombeou o ar para fora da “esfera” formada. Após criar um vácuo* dentro da “esfera”, von Guericke usou dois grupos de cavalos para tentar separar os hemisférios, mas eles não conseguiram superar a pressão atmosférica.
Na verdade, o experimento com os hemisférios acabou servindo para von Guericke demonstrar a bomba de sucção, inventada por ele mesmo em 1650.
Otto repetiu o experimento em Magdeburgo (cidade da qual era prefeito desde 1646) em 1656, utilizando 16 cavalos divididos em dois grupos, como mostra a imagem acima. Daí o nome hemisférios de Magdeburgo.
Christian Doppler e os trompetes
Você está parada/parado no trânsito. Atrás vem uma ambulância em alta velocidade. Conforme ela se aproxima, o som da sirene parece ficar mais agudo (aumento da frequência). Quando ela se afasta, o som parece ficar mais grave (diminuição da frequência).
O clássico exemplo ilustra o efeito Doppler, fenômeno que explica a variação de frequência de ondas sonoras percebida por um observador estacionário enquanto a fonte está em movimento. Ele recebe esse nome em homenagem ao físico austríaco Johann Christian Doppler (1803 — 1853), que propôs o princípio em 1842.
Em 1845, para comprovar que o efeito Doppler era real, o meteorologista holandês Christopher Heinrich Buys Ballot (1817 — 1890) decidiu fazer uma demonstração pública na linha ferroviária que passava na cidade de Utrecht.
Em um vagão de trem aberto, Buys Ballot colocou vários trompetistas. Enquanto o trem estivesse em movimento, os músicos deveriam tocar uma mesma nota. Assim, quem estivesse na plataforma poderia notar o efeito Doppler.
E você, conhece outros momentos da história da ciência com demonstrações públicas como essas? Deixe o seu comentário!
*Não existe vácuo perfeito. Na câmara da NASA, sobraram cerca de 2 g de ar.
Referências:
Sobre Galileu:
HART-DAVIS, ADAM; Science: the Definitive Visual Guide, DK, 2009
The Apollo 15 Feather-Hammer Drop (NASA)
Sobre von Guericke:
HART-DAVIS, ADAM; Science: the Definitive Visual Guide, DK, 2009
C. WALLACE, DAVID; Twenty-Two Turbulent Years 1639 – 1661, Fastprint Publishing, 2013
Sobre Doppler:
WEINBERG, STEVEN; The First Three Minutes: A Modern View of the Origin of the Universe, Basic Books, 1993
BRYSON, BILL; Breve história de quase tudo, Companhia das Letras, 2010
The first proof of the Doppler Effect (io9)
Engenheiro de Computação e Informação trabalhando com Marketing Digital e editando o Blog da Ciência. Convicto do poder da divulgação científica como ferramenta para compartilhar conhecimento.