Livro “A História da Astronomia” — O Veredito

Imagem de capa com o livro A História da Astronomia à esquerda e o texto "A História da Astronomia, Anne Rooney" à direita.

É fato que o desenvolvimento da ciência está intimamente ligado à evolução da astronomia. Então, nada melhor que estudar a história desse campo para saber mais sobre a sucessão de feitos científicos que nos trouxeram até aqui.

Em “A História da Astronomia — Dos planetas e estrelas aos pulsares e buracos negros”, Anne Rooney oferece páginas bem ilustradas, boxes explicativos e um pouco sobre a vida de alguns homens e mulheres da ciência que fizeram a diferença para o entendimento do cosmos.

Nesse universo de informações, destaquei as mais interessantes do livro, divididas em três partes! Confira!

1. Os astrônomos ancestrais

Ao observarmos o céu a olho nu, algumas das primeiras observações que podemos fazer dizem respeito ao Sol, à Lua, às estrelas e aos planetas.

Os pontos que cintilam — as estrelas — se movem em conjunto durante a noite, em torno de um ponto fixo. Já os pontos com brilho fixo — os planetas, antigamente chamados de “estrelas móveis” —, se movem de forma independente.

Esse conhecimento inicial foi fundamental em termos de orientação (onde está e para onde ir), mas a observação dos objetos e de como alguns deles apareciam de forma cíclica nos céus foi determinante para medir a passagem do tempo.

Tanto é que temos inúmeros exemplos de sítios arqueológicos que funcionaram como calendários. Como exemplos desses locais citados no livro, estão Warren Field e Goseck.

Quando vemos imagens desses sítios sabendo qual era sua finalidade, pode parecer óbvio que os arqueólogos chegaram a essa conclusão ao encontrar tais ruínas. Acontece que os astrônomos pré-históricos não documentaram a utilidade dos seus monumentos — foi preciso muito estudo de arqueólogos com conhecimentos em astronomia, os arqueoastrônomos.

Aliás, foi o descobridor do hélio e fundador da revista Nature, Norman Lockyer (1836 — 1920), que propôs que certos monumentos antigos poderiam ter alguma relação com os marcos celestes.

Mas quem foram os primeiros astrônomos, afinal? Segundo o astrônomo greco-egípcio Claudio Ptolomeu (c. 100 — c. 170 d.C.), a astronomia começou com os babilônios. Há registros do século VII a.C. com as datas do nascer e pôr de Vênus no céu.

O grego Tales de Mileto (c. 624 — c. 546 a.C.) é considerado o primeiro cientista — lembrando que o termo “cientista” só foi inventado no século XVII. Ele buscou explicar os fenômenos naturais com base na razão, e não com histórias de seres sobrenaturais. Tales foi capaz até mesmo de prever um eclipse.

Outros antigos gregos procuraram fazer o mesmo e por isso é justo dizer que a Grécia foi o berço da ciência.

A explicação do surgimento da astrologia

Como já vimos no post sobre as diferenças entre astronomia, astrofísica e cosmologia, a astronomia é a ciência que estuda a posição, luminosidade, movimento, composição e outras características dos corpos celestes (planetas, satélites naturais , estrelas, galáxias etc.) e fenômenos cuja origem se dá fora da atmosfera terrestre.

Já a astrologia é um conjunto de superstições que tenta explicar a influência de eventos celestes na vida das pessoas. Trata-se de uma pseudociência — algo sem comprovação científica. Mas de onde ela veio?

Ao observar as estrelas, nossos ancestrais não faziam ideia do que elas eram. Contudo, eles notaram que o movimento delas era previsível. Quando certa constelação aparecia no horizonte, isso coincidia com a aproximação de determinada estação. Ou ainda com o início de uma boa colheita.

Dessas constatações à conclusão — equivocada, que fique bem claro — de que os astros interferem em diversos aspectos da vida humana foi um salto.


2. O desenvolvimento da astronomia

As explicações dos povos antigos se baseavam na intuição e na imaginação, por isso, incluíam deuses, concepção de uma terra plana, cúpulas, camadas entre o céu e a Terra e até animais gigantes.

Filósofos da Grécia Antiga começaram a tentar descrever o universo sem apelar para o sobrenatural. Mesmo que chegassem a conclusões erradas, estavam se esforçando a questionar a realidade, e não simplesmente aceitar explicações míticas.

A contribuição dos gregos

Anaximandro (c. 610 — 546 a.C.) teve ideias bem impressionantes para a sua época, como afirmar que a Terra flutua no espaço, sem suporte.

Aristóteles (384 — 322 a.C.), que também foi um grande pensador, não acertou muito em suas ideias quanto à astronomia.

Ele achava, por exemplo, que a Terra era o centro do universo. Essa ideia foi defendida por outros gregos como Apolônio de Perga (262 — 190 a.C.) e Ptolomeu, que formularam modelos para explicar o movimento dos planetas ao redor da Terra.

Apesar de usar conceitos equivocados, Ptolomeu descreveu o movimento dos planetas tão bem (por meio dos epiciclos) que essa visão dominou durante cerca de 1700 anos.

Do heliocentrismo às órbitas elípticas

Mais tarde, em um folheto chamado Commentariolus, Nicolau Copérnico (1473 — 1543) apresentou ideias de que era a Terra e os planetas que orbitavam o Sol. Ele não foi o primeiro — Aristarco de Samos (c. 310 — c. 230 a.C.) e astrônomos árabes como Ibn al-Shatir e indianos também defenderam esse modelo —, mas certamente foi quem mais contribuiu para a mudança de visão.

Copérnico levou anos para demonstrar matematicamente o que havia afirmado no Commentariolus, publicando os resultados na obra De revolutionibus orbium cœlestium(Da revolução de esferas celestes).

O modelo coperniciano foi se difundindo entre os astrônomos, mas não foi aceito muito rapidamente. Tycho Brahe (1546 — 1601) teve acesso ao conceito, mas não o apoiava. Para ele, todos os planetas orbitavam o Sol (menos a Terra), enquanto o Sol e a Lua orbitavam a Terra.

De qualquer maneira, Brahe fez contribuições essenciais para a astronomia. Na ilha de Hven, na Dinamarca, manteve o melhor observatório da Europa, treinando novos astrônomos e fazendo observações extremamente precisas dos astros.

Em 1599, Tycho mudou-se para Praga. À procura de um matemático assistente, chegou ao nome de Johannes Kepler (1571 — 1630). Os dois trabalharam juntos até a morte prematura de Tycho, em 1601.

Kepler estudou a fundo o movimento de Marte com auxílio dos dados meticolosos das observações que Brahe deixou. Na época, a ideia mais aceita era a de que os planetas descreviam órbitas circulares.

Kepler foi capaz de notar que os dados não batiam com essa concepção. Depois de se dedicar muito, chegou à conclusão de que Marte possui uma órbita elíptica.

Em seguida, extrapolou essa ideia para os outros planetas do sistema solar, publicando suas descobertas em 1609, na obra Astronomia nova.

A contribuição dos árabes

Apesar de os astrônomos ocidentais terem feitos extraordinários, devemos lembrar que eles não estavam sozinhos.

A autora destaca que o desenvolvimento da astronomia entre os árabes também foi significativo. A começar pelo fato de os seguidores do islamismo precisarem rezar voltados para Meca e por o calendário islâmico se basear no ciclo lunar.

Para se ter uma ideia, figuras como Abu Sa’id al-Sijzi (951 — 1020) e Al-Battani (858 — 929) criticaram diversos conceitos defendidos por Ptolomeu. Ulugh Beg (1394 — 1449), Al-Kashi e Ali Qushji criaram um catálogo com 992 estrelas.

Essa evolução da astronomia impulsionou o progresso da matemática e de outras ciências no mundo árabe, o que contribuiu para observatórios cada vez mais precisos e com os melhores instrumentos.

O instrumento que mudou a astronomia para sempre

Vale destacar que até 1609 as observações eram feitas com auxílio de instrumentos, mas ainda assim a olho nu. Porém, foi nesse ano que o matemático italiano Galileu Galilei (1564 — 1642) decidiu apontar para os céus um telescópio que ele mesmo havia construído, o que transformou a astronomia para sempre.

Vale lembrar que Galileu não inventou o telescópio — a luneta já existia, apesar de ser usada para “aproximar” objetos distantes que estivessem em terra.

Galileu observou bastante a nossa Lua e descobriu que Júpiter tinha satélites naturais. As chamadas luas galileanas são as maiores do planeta e receberam os nomes de Ganimedes, Calisto, Io e Europa. Ele também ficou intrigado ao observar Saturno, chegando a pensar, em 1612, que o planeta tinha estruturas parecidas com “orelhas”.

Foi Christiaan Huygens (1629 — 1695) que afirmou, em 1659, que Saturno era cercado por um anel sólido. Jean Chapelain (1595 — 1674) defendeu, um ano depois, que o anel era composto de pedaços ou satélites. Giovanni Cassini (1625 — 1712) propôs que, na verdade, Saturno tinha diversos anéis. Aliás, foi ele que documentou a grande mancha vermelha de Júpiter.

“Dizem que, nos meses de dezembro de 1609 e janeiro de 1610, Galileu fez mais descobertas que mudaram o mundo do que qualquer outra pessoa em toda a história. Embora Copérnico e Kepler já tivessem escrito sobre o modelo heliocêntrico do sistema solar, eles escreviam em latim, enquanto Galileu escrevia em italiano, e isso tornou seus achados revolucionários acessíveis a um público mais amplo na Itália.”
— Anne Rooney

Um olhar mais atento ao sistema solar

O fato de o Sol ser uma estrela pode parecer trivial, mas nem sempre foi assim. Os gregos Anaxágoras (c. 510 — 428 a.C.) e Aristarco propuseram essa ideia já naquela época. Giordano Bruno (1548 — 1600) defendeu o mesmo, acrescentando que o nosso planeta é um entre muitos no universo.

E sobre o entendimento da constituição do Sol, o destaque vai para Cecilia Payne-Gaposchkin (1900 — 1979). Em sua tese de doutorado, explicou que a atmosfera solar era predominantemente de hidrogênio. Foi a partir daí que a noção de que as estrelas são formadas principalmente por esse elemento passou a ser aceito.

Gravidade

Kepler descobriu que os planetas descrevem uma órbita elíptica, mas foi Isaac Newton (1642 — 1727) quem demonstrou por que eles se movem dessa forma. Em seu Principia (Philosophie naturalis principia mathematica), ele explicou a atuação da força da gravidade, deixando claro que o que mantém os planetas do Sistema Solar em órbita é justamente a ação gravitacional provocada pelo Sol.

Mais tarde, Albert Einstein (1879 — 1955) propôs que a gravidade é o efeito que objetos com massa geram devido à distorção do espaço-tempo.

3. A expansão da fronteira da astronomia

Os instrumentos ficaram cada vez mais sofisticados. Cometas, nebulosas, pulsares, galáxias e muitos outros objetos foram descobertos. Cientistas desenvolveram novas teorias acerca do universo.

Uma das mais importantes teve a contribuição do astrônomo belga Georges Lemaître (1894 — 1966), que propôs o universo em expansão, com base em cálculos com as equações da relatividade de Einstein.

Ele teve contato com o trabalho do astrônomo americano Edwin Hubble (1889 — 1953), cujos achados também confirmavam que o universo estava se expandindo.

Assim, Lemaître concluiu que seria razoável que, no princípio, tudo estivesse concentrado em um ponto. Tudo teria surgido daí, a partir do evento que deu início à expansão do universo, que conhecemos como Big Bang.

Mas é claro que ainda temos muito a descobrir. Existem outros universos? Existe vida em outros mundos? Nossa espécie será capaz de colonizar outros planetas?

Enquanto não temos essas respostas, fique com um dos trechos mais impactantes da obra:

”Num período de cerca de quatrocentos anos, as descobertas da astronomia e da biologia rebaixaram os seres humanos da posição de governantes supremos criados no centro do universo para a de seres evoluídos e em evolução num planetinha que orbita uma estrela afastada numa das muitas galáxias.”
— Anne Rooney


Referência:
ROONEY, ANNE; A História da Astronomia, M Books do Brasil Editora Ltda., 2018

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